POLENIZANDO

  ACIDENTES AMBIENTAIS E SEU CARÁTER EDUCATIVO - Mauro Guimarães

Mauro Guimarães:
Professor da Universidade do Grande Rio (RJ), Mestre em Educação (UFF), Doutorando em Ciências Sociais (UFRRJ) e autor de livros na área de Educação Ambiental, entre eles "Educação Ambiental: no consenso um embate?" e "A dimensão ambiental na Educação", pela Editora Papirus.


A grande divulgação pela mídia de um acidente ambiental pode ter um significado educativo? Considerando estritamente o aspecto educativo, diria que não! Ou pelo menos com um significado muito pequeno hoje em dia.

Nas últimas décadas muitos foram os acidentes ambientais no Brasil e no mundo. A gravidade destes acidentes e o efeito para a redução da qualidade de vida dos ambientes atingidos, aumentam a medida que os ecossistemas encontram-se cada vez mais deteriorados, tanto ao nível local como global. A capacidade de recuperação do meio ambiente não é ilimitada. Já não é mais coisa de "ecologista romântico" ou "ecochato" , reconhecer que a vida corre sérios riscos de se manter em vários pontos do mundo, ou até mesmo em todo o planeta. Já existem correntes no meio científico que trabalham com a hipótese da inviabilidade da vida no nosso planeta, caso permaneçam inalteradas as atuais relações entre a sociedade humana e a natureza.

Em um passado próximo, graves acidentes como o derramamento de óleo e resíduos na Baia de Guanabara (RJ), rio Iguaçu (PR), Rio Doce (MG) e Paraíba do Sul (RJ), fartamente divulgados pela mídia, "sensibilizaram" a opinião pública sobre a gravidade da questão ambiental em nossa sociedade.

Um número crescente de pessoas em todo o mundo, no Brasil mais de 80% da população, habitam áreas urbanas em acelerado ritmo de crescimento. Essa população vivencia problemas ambientais, cada vez mais próximo em seu cotidiano, tais como: lixo, falta de saneamento, poluição atmosférica, sonora e das águas. Na virada do milênio, já se vislumbra como um dos grandes problemas da humanidade a escassez de água potável, como se diz por aí, a fonte da vida. Os problemas ambientais já fazem parte do cotidiano de nossas vidas. Desta forma, não há quem não "fale" da importância da preservação da natureza. Esse reconhecimento é nos dias atuais um grande consenso na humanidade. Certamente, se for feita hoje uma pesquisa de opinião pública pelo Brasil afora, perguntando simplesmente, sim ou não, se é importante a preservação da natureza, o resultado estará próximo dos 100 % para o sim.

Portanto, hoje, apenas divulgar um acidente ambiental está se tornando mais pobre de significado no seu aspecto educacional como "sensibilizador" da população, já que esta já está "sensibilizada" (reconhece a importância da preservação da natureza). Principalmente, se contrapormos o aspecto positivo de sensibilização com as graves conseqüências sócio-ambientais destes acidentes para todos nós que estamos convivendo em um ambiente cada vez mais deteriorado; ou seja, com menos qualidade de vida. Corre-se ainda o risco da banalização, do acostumar-se com a situação, pelas constantes ocorrências dos acidentes ambientais.

O sentido de educar ambientalmente hoje, vai além de "sensibilizar" a população para o problema. Não basta mais apenas sabermos o que é certo ou errado em relação ao meio ambiente. Precisamos inclusive superar a noção de "sensibilizar", que na maior parte das vezes é entendido como compreender racionalmente. Só a compreensão da importância da natureza, não tem levado a sua preservação. Sensibilizar envolve também o sentimento, o amar, o ter prazer em cuidar, como cuidamos dos nossos filhos. É o sentido de doação, de integração, de pertencimento a natureza.

É preciso ainda, e sobretudo, a mobilização, por a ação em movimento. É incorporar (razão e emoção) no cotidiano de nossa ação a questão ambiental como prioridade. É uma mudança de atitude nossa com nós mesmos, em uma nova visão de mundo; nossa com os outros e o ambiente que nos envolve, em uma ação solidária. É tudo isso em nossa luta política, como seres sociais que somos, pela conquista de um novo modelo de sociedade que preze a relação de equilíbrio com o meio ambiente, que passa obrigatoriamente pela justiça social; ou seja, é a construção de uma nova sociedade ambientalmente sustentável. É preciso portanto, o exercício pleno de nossa cidadania em um processo de conscientização.





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